quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Jornada - Miranda May




Jornada

Muito viajei no vento que folheia as páginas da mudança.
Nesta jornada verti minha alma nas encruzilhadas; pisei nas pedras do desespero e – desalentado - andei pelos caminhos da dúvida e da decepção. 
Mas, apesar das mil andanças, sou trigo maduro que passou pela moenda - e ainda não se tornou pão. Sou viandante que, não se acostumando com as pedras do percurso, continuou a tropeçar e c
air.
E -apesar das quedas -, viajei por ventos de aconchego; mas as tempestades também me visitaram.
E quando a mudança pareceu certa, cada desilusão me mostrava a realidade. E, na realidade, percebi que me arrastei, por anos, nos pântanos de meus próprios dejetos.
Mas, nas viagens que fiz me procurando, me achei – pedra embrutecida pelas intempéries.
E, embora com a alma sovada - como massa fermentada –, vi que o caminho me ensinava; que as pedras me guiavam e que as intempéries me despiam da ilusão de grandeza. Cada obstáculo do caminho me advertia da direção errada.
Passageiro da inquietude, muitos atalhos escolhi desejando o término da jornada. E nestes atalhos desci ao vale do desespero ao ver que voltava - tempo perdido - a caminhos já percorridos.
Sendo a viagem longa eu - diamante bruto - segui na pressa de chegar ao meu destino.
Na pressa de me achar, corria quando o coração pedia para descansar; e desanimava quando a alma, sem o pão dos afagos amorosos, pedia para correr.
Mas, em cada viagem, novas formas de ser eu se desvendavam.
E então, herói de minha jornada, segui (me descobrindo).
Apesar das quedas deixo minhas pegadas nas trilhas e nos caminhos: são estradas que vão sendo abertas; são caminhos que cobri, de migalhas de pão, para o viajante descuidado.
Nesta marcha aprendi, com a paciência das estações, que tudo passa e tudo novamente volta - num ciclo sem fim.
Apesar dos percalços, das pedras e tempestades, o vento que folheia as páginas da mudança é meu amigo e, como para tudo existe um tempo certo, um dia meu tempo chegará e minha metamorfose – finalmente - acontecerá.

Miranda May

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