sexta-feira, 11 de abril de 2014

Enquanto o vento sopra forte...


O sono não chega. A vontade, de tudo, no todo, se vai. Lá fora, a noite é atormentadora tormenta. Intensa. O vento quebra verdadeiras ondas de chuva contra a janela do escritório no qual não consigo trabalhar. E eu apenas a aguardo. Incontido, espero pelo regresso dela.
Uma xícara de café quase gelado. Luzes acesas em cômodos desabitados. Portas escancaradas sem ninguém para por elas passar. Rádio sem ouvinte. Televisor sem expectador. Livro aberto, solitário, jogado em um canto. E eu apenas aguardo. Como era incomparavelmente bom tê-la ao meu lado!
Passo a perambular pela casa madrugada a dentro. Pelos vãos. Tudo em vão! Não tenho aonde ir, pois não sei onde procurar. Minha única força restante é a esperançosa vontade de encontrar. Então, eu apenas aguardo. Nunca estive sozinho enquanto por ela estive acompanhado.
Uma goteira toca o assoalho, quebrando a verdadeira sinfonia de sons inaudíveis que em meu lar impera. As tábuas não mais rangem enquanto caminho. Mas eu ainda apenas aguardo. No silêncio, em meus ouvidos inebriantemente ouço-a cantar.
Encaro a folha vazia e a caneta, ambas depositadas, mortas, sobre a mesa. Pretendia escrever à causadora das minhas saudades uma carta breve, mas sem tê-la comigo parecia perda de um tempo ocioso que tenho em excesso. E eu prossigo aguardando. O tempo nada era, nem representava, quando com ela era compartilhado.

Lá fora, a chuva deu uma trégua. Mas a goteira ainda insiste em pingar sobre o assoalho; E o vento não cessou de soprar. Ele nunca cessa de todo. Enquanto o vento sopra forte, esperançoso, peço-lhe que milagrosamente me traga a musa inspiração. Com ela as madrugadas eram claridade e as tempestades calmaria. 

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