O sono não chega. A vontade, de tudo, no todo, se vai.
Lá fora, a noite é atormentadora tormenta. Intensa. O vento quebra verdadeiras
ondas de chuva contra a janela do escritório no qual não consigo trabalhar. E
eu apenas a aguardo. Incontido, espero pelo regresso dela.
Uma xícara de café quase gelado. Luzes acesas em
cômodos desabitados. Portas escancaradas sem ninguém para por elas passar.
Rádio sem ouvinte. Televisor sem expectador. Livro aberto, solitário, jogado em
um canto. E eu apenas aguardo. Como era incomparavelmente bom tê-la ao meu
lado!
Passo a perambular pela casa madrugada a dentro. Pelos
vãos. Tudo em vão! Não tenho aonde ir, pois não sei onde procurar. Minha única
força restante é a esperançosa vontade de encontrar. Então, eu apenas aguardo.
Nunca estive sozinho enquanto por ela estive acompanhado.
Uma goteira toca o assoalho, quebrando a verdadeira
sinfonia de sons inaudíveis que em meu lar impera. As tábuas não mais rangem
enquanto caminho. Mas eu ainda apenas aguardo. No silêncio, em meus ouvidos
inebriantemente ouço-a cantar.
Encaro a folha vazia e a caneta, ambas depositadas,
mortas, sobre a mesa. Pretendia escrever à causadora das minhas saudades uma
carta breve, mas sem tê-la comigo parecia perda de um tempo ocioso que tenho em
excesso. E eu prossigo aguardando. O tempo nada era, nem representava, quando
com ela era compartilhado.
Lá fora, a chuva deu uma trégua. Mas a goteira ainda
insiste em pingar sobre o assoalho; E o vento não cessou de soprar. Ele nunca
cessa de todo. Enquanto o vento sopra forte, esperançoso, peço-lhe que milagrosamente
me traga a musa inspiração. Com ela as madrugadas eram claridade e as tempestades
calmaria.
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