sexta-feira, 21 de março de 2014

Sobre Justiça e Perfecionismo




Várias vezes me disseram que eu deveria ser menos perfecionista, que eu me cobrava demais.

Mas nunca me senti um perfeccionista. Eu só queria fazer as coisas certas. Sabia que estava

exagerando em minha auto cobrança, mas nunca soube determinar exatamente o que ela

era e de onde vinha. Eu sabia que as coisas nunca seriam perfeitas e que as coisas já eram

perfeitamente imperfeitas. Mas, mesmo assim, havia a cobrança. Então, um dia eu fiz uma

análise numerológica da minha vida e uma das características que apareceu foi que uma das

minhas sombras é a Justiça. Não sei até que ponto isso está correto, mas achei interessante

que a análise bateu com vários aspectos da minha vida. Daí comecei a pensar sobre a Justiça

caiu a ficha. Eu não quero que as coisas sejam simplesmente perfeitas. Eu só quero que

sejam justas. Só isso. Sei que nada é perfeito. Mas quero que as coisas sejam as mais justas

possíveis.

A primeira vista não haveria de ter problema nisso. Só que minha visão de justiça era

distorcida. Eu quero perfeição na justiça. E me cobro pois acho que tenho a obrigação de fazer

as coisas certinhas, pois é justo que eu o faça, pois tenho a obrigação. O por quê não sei.

Sempre acho que devo me esforçar mais. Mas, ao mesmo tempo que eu quero me esforçar,

muitas vezes eu vejo esse esforço exagerado que eu me imponho como descomunal. Então

eu não faço muitas coisas - nem chego a tentar - pois acho que a tarefa vai muito além do meu

alcance. Mas quando eu pego uma tarefa - seja na vida pessoal ou no trabalho - eu tento fazer

as coisas certinhas - perfeitas. Na verdade, eu vejo agora que eu estava me enganando em

achar que eu não era perfeccionista. Só que a definição que eu lia de perfeccionismo que não

se encaixava com que eu sentia. Agora se encaixa. E pra mim é difícil de aceitar coisas que

não se encaixam. Parece sempre que algo está faltando.

Além disso, não era só de mim que eu cobrava. Também cobrava os outros. Não chegava

a cobrar diretamente, mas eu tinha expectativas de, já que estou me prestando a fazer o

melhor de mim, esperava que os outros se esforçariam para fazer o melhor deles. E muitas

vezes não faziam, e isso me frustrava. Mas eu não me desiludia. Continuava com o mesmo

comportamento e me frustrava toda a vez. E pode ser que eu me cobrava como uma forma

de garantia: se eu me esforçasse sempre e me cobrasse, isso me daria o direito de cobrar

os outros quando a hora chegasse. E sempre eu me sentia bem quando cobrava os outros

quando esses eram injustos: isso dava uma sensação de justiça. Eu gostava de me sentir

injustiçado. Eu me fazia de “vítima”, como dizem.

Agora estou tentando mudar esse hábito. Vejo que eu não tenho a obrigação de que tudo seja

certo. Existe um esforço para fazer as coisas que é aceitável, mas usar além desse esforço,

ou se preocupar demais com o resultado, é problemático. Muitas das coisas que escolhi

fazer porque quis se tornaram problemáticas porque eu exigia que tudo fosse o mais perfeito

possível, como até mesmo escrever essse blog. Então o trabalho que deixar perfeito exigia me

intimidava. Agora sei que existe um esforço necessário para deixar as coisas apresentáveis

e aceitáveis. Mas me exigir demais pode justamente comprometer o objetivo. Mas mudar de

hábito não é fácil. Eu sei que vou ter “recaídas”. Então, acho que devo mudar minha definição

de justiça: não é justo que eu me esforce além do que é necessário para deixar as coisas bem

feitas. E “bem feitas” é muito diferente do que “perfeitas”.

E saber que as outras pessoas podem não pensar da mesma forma que eu: elas podem não

se esforçar ou, o mais importante: podem não ter um comportamento consistente. Elas podem

se esforçar uma hora e em outras não. É que as coisas são assim: cada um é o centro do seu

mundo. Eu sou o centro do meu mundo, mas você é o centro do seu mundo. Eu sou a pessoa

mais importante para mim, você é a pessoa mais importante para você. Eu não posso esperar

que você se esforce da forma que eu gostaria pois pode não ser do seu interesse se esforçar

tanto. E é assim que tem que ser. Cada um cuida de si primeiro, e depois dos outros. Fazemos

as coisas porque queremos e é bom para nós e não para agradar os outros. É claro, devemos

viver em sociedade e ajudar ela a evoluir. Isso porque também estamos nos ajudando quando

a sociedade evolui.

Mas também pode ser que nos cobramos porque nos sentimos pressionados pelos outros.

Então quem tem problemas com justiça pode ser a outra pessoa. Mas o que foi falado aqui

também serve. Não se esforce mais que o necessário, o ponto de que o que deveria ser um

prazer ou um trabalho digno passe a ser algo que causa desconforto. Então, se justiça for algo

importante para você, lembre-se de que não é justo você se cobrar por coisas que ninguém

dará importância mesmo. Ou se derem muita importância, o problema é com eles, não com

você.

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