Uma das maiores causas do sofrimento é a expectativa. Temos a expectativa de que as
pessoas vão mudar por nós, ou que, se nós mudarmos, elas vão ser mais amáveis conosco.
Ou, se nos esforçarmos mais no trabalho, seremos reconhecidos. Ou que as coisas vão mudar
do nada. Mas a verdade é que se continuarmos a fazer o que estamos fazendo nada vai
mudar. E não adianta tentar mais da mesma coisa. Essa expectativa de que as coisas vão se
diferentes gera frustração quando eleas não acontecem como queríamos que acontecessem.
O sofrimento em si vem porque estamos insatisfeitos com nossa vida. Mas muitas vezes não
paramos para analisar do que estamos insatisfeitos. É uma insatisfação muito geral, então em
vez de enfrentar a causa, que desconhecemos, tentamos amenizar os sintomas. Consumimos
cada vez mais a fim de amenizar esse sofrimento. Mas ele pode vir do fato de que não estamos
realizando nossos sonhos. E nenhum consumo, por maior que seja, vai resolver o problema
dos sonhos não realizados. Então, como dizem os budistas: o sofrimento vem da ignorância
sobre o que realmente estamos insatisfeitos com nossa vida. A partir do momento que ficamos
conscientes do que nós realmente queremos, vamos rumo a essa satisfação.
Outra causa do sofrimento é o apego. Mas, pior que o apego aos bens materiais, é o apego às
pessoas. Perder uma pessoa com quem estamos muito apegados é pior do que perder uma
casa. Mas dizer que o apego é o problema parece ser o mesmo que dizer que não devemos
ter emoções. Mas não é isso. Na verdade o que deve ser feito é não ter a expectativa de que
a pessoa estará sempre conosco. Aceitar que tudo é impermanente, mesmo as coisas que
amamos mais. Isso não quer dizer que não devemos nos apegar a nada ou que não devemos
aproveitar nada da vida, nem os bens materias ou as pessoas. Devemos aproveitar sim, mas
com a consciência de que um dia as perderemos. Um dia também perderemos a nós mesmos.
Não seremos mais o que somos hoje. Também não somos permanentes.
Sobre as outras pessoas que nos fazem sofrer, devemos levar em conta que muitas vezes
a outra pessoa não faz de propósito, com o intuito de nos atormentar. Muitas vezes é
simplesmente o jeito dela. O jeito que ela lida com qualquer situação. Não devemos ter a
expectativa de que ela mude. Devemos aceitar elas como são. Mas não quer dizer que
devemos continuar com nosso sofrimento. Já que não podemos esperar que elas mudem
e muito menos fazer com que elas mudem, quem deve mudar somos nós. Nós devemos
nos desapegar da pessoa que nos faz sofrer. No final, isso significa deixar a pessoa ir.
Nos desvincular emocionalmente dela. Isso é cruel eu sei, principalmente quando estamos
apegados demais. Mas a verdade é que as pessoas que mais amamos é que nos fazem sofrer
mais. Se você está sofrendo por causo de alguém é porque um dia você a amou muito. E tinha
expectativas de que essa pessoa a faria feliz. Mas ela a decepcionou.
Muito do que eu falei pode ser óbvio para a maioria das pessoas. As coisas são assim desde
que o mundo é mundo. Mas eu nunca parei para pensar nisso. Tive que aprender da pior
forma: me apagando a alguém e depois tendo que aprender a desapegar para me livrar do
sofrimento, do sentimento de perda. Quando estamos apegados à alguém, muitas vezes
atrelamos - ligamos, vinculamos - nossa personalidade e nosso senso de “eu” à outra pessoa.
Achamos que a conhecemos e ela nos conhece bem. Ou, pelo menos, é o nosso plano que
assim seja algum dia. Só que quando essa pessoa nos decepciona e temos que nos afastar,
temos a sensação que perdemos o nosso chão, e muitas vezes temos dúvidas de quem nós
somos, o que temos e o que queremos ter e ser.
Por um tempo sentimos muita raiva dessa pessoa. Uma raiva que muitas vezes é irracional.
Pois a pessoa não teve a intenção de nos fazer mal. As coisas acontecem muitas vezes por
uma triste coincidência. Estavam destinadas a não darem certo e fomos nós que nos iludimos.
Não é culpa da outra pessoa, e nem nossa. Aconteceu o que aconteceu. E devemos continuar
com nossas vidas. Isso na verdade é muito bom, pois crescemos. Aprendemos como a vida
funciona. Pois muitas vezes somos muito inocentes, no sentido de não saber como que a vida
e as pessoas funcionam. E também somos todos inocentes, pois ninguém tem culpa de nada.
Somos o que somos. E temos que aceitar o que os outros são também.
A nossa felicidade é nossa responsabilidade. Como disse antes, se alguém com quem nós
convivemos nos faz sofrer, é nossa responsabilidade resolver as coisas. Podemos conversar
com a pessoa para tentar resolver as coisas - mas sem expectativas de que elas mudem.
Podemos tentar nos adaptar a ela. Aprender como ela funciona e agir de acordo, mantendo
um diálogo. Ou podemos nos afastar, pelo menos por um tempo, para esfriar as coisas. Nada
disso que eu falei é escrito a ferro e fogo, é simplesmente o que eu acho no momento sobre o
que aconteceu comigo mesmo. Eu acho que cresci com a situação e a outra pessoa também.
Agora vejo que ela não é má como achava que era. Mas tudo bem. Tudo passou e foi como
deveria ter sido.
Espero um dia consolidar o que eu aprendi e transmitir minha experiência para outras pessoas,
pois acredito que esse aprendizado possa ser menos doloroso. Ler sobre coisas que não
experêniciamos nós mesmos não ajuda muito, mas ler sobre o que estamos sofrendo no
momento ajuda a superá-lo mais rápido, pois nos identificamos com que estamos lendo e
entendemos melhor o que estamos sentindo. Eu gosto de ler livros de auto ajuda e um dia
pretendo escrever um. Mas não aqueles livros que dizem para termos pensamentos positivo
e que a felicidade cai do céu, mas um que faça as pessoas aprenderem a não terem dúvidas
de si mesmas. Para não precisar de outras pessoas para preencher um vazio existencial, mas
para se complementarem. E para não perder o chão quando outras pessoas questionarem
nossa capacidade de julgamento. Em suma, eu quero ajudar as pessoas a confiar mais em si
mesmas, pois é isso que eu busco para mim mesmo. Analisar nossas experiências passadas
e crescer com elas. Eu só posso analisar a minha experiência, pois não sou psicólogo, mas sei
que cada pessoa pode analisar a própria experiência de vida.
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